Quando
nos deparamos com o conceito espírita “Fora da Caridade não há
Salvação”, muitos confundem Caridade com a Beneficência, e se
distraem do verdadeiro conceito de Caridade que encontramos em O
Livro dos Espíritos, questão 886, quando os espíritos superiores
respondem a Allan Kardec que o verdadeiro sentido da Caridade,
conforme entendia Jesus é “indulgencia para as imperfeições
alheias, benevolência para com todos e o perdão das ofensas”.
Portanto,
o conceito de Caridade rege as relações humanas, uma vez que em
contato com o próximo, levando em consideração a imperfeição que
existe em cada um de nós sempre teremos que lançar mão da
indulgencia, da benevolência ou do perdão. E existe aí uma
gradação, pelo menos no meu modo de ver: O perdão existe para
aquele que não é indulgente e a indulgencia existe para aquele que
não é benevolente.
Também
a indulgencia, o perdão e a benevolência existe para si mesmo e não
para o outro. É claro que o ser benevolente resulta num bem para o
próximo, mas ser benevolente não é para o outro e sim para si
próprio uma vez que é o caminho da própria felicidade.
Portanto
Caridade também é Perdão e é justamente sobre o que iremos nos
estender hoje.
Aprendemos
na doutrina espírita que Deus não isenta e não pune ninguém. Que
é a nossa própria consciência que promove nossa felicidade ou
infelicidade futura na vida espiritual. O Perdão de Deus, podemos
dizer que é a oportunidade de um recomeço com o benefício do
esquecimento dos nossos atos infelizes no passado, ficando apenas
gravada na consciência o aprendizado pelas experiencias vividas.
Ser
perdoado por alguém não significa que deixamos de ter
responsabilidade sobre nossos atos. Por exemplo: em encarnações
passados tiramos a vida de um desafeto nosso. Este desafeto nos
perdoou, entretanto podemos ser colhidos pelo desencarne
prematuramente numa encarnação futura para aprendermos a valorizar
a vida.... e sentirmos a interrupção que fizemos sofrer nosso
próximo.
Um
malfeitor no causa grande sofrimento. Exercemos para com ele a
Caridade, perdoando mal praticado. Entretanto o nosso perdão não
muda a índole do malfeitor e se nos colocarmos novamente em contato
com ele, é quase certo que iremos sofrer novamente... Mesmo assim é
possível usar do perdão para com o malfeitor, sem ter que se
sujeitar novamente ao sofrimento que a convivência poderia
ocasionar. Mas isso não é falta de Caridade? Para mim é usar do
discernimento. Sendo Jesus nosso modelo de perfeição, e embora
tenha Ele afirmado que não devemos resistir ao mal... em
determinadas ocasiões os evangelistas relatavam: “sabendo que
queiram prendê-lo desaparece por entre a multidão”... Em outros
momentos, vendo o atraso moral daqueles que lhe queriam mal, afirmava
“até quando terei que conviver convosco?”
Por
outro lado Jesus deixa sua derradeira lição na cruz, quando afirma
“Pai, perdoa-lhes pois não sabem o que fazem!” Por ser
benevolente, Jesus não se sente ofendido e sabe que aqueles que lhe
impingia o sofrimento ainda eram carregados de imperfeições que só
o tempo e o progresso moral iriam sanar, mas que chegaria este dia...
O Perdão
tem ver com se sentir ofendido e a se sentir ofendido é não ser
benevolente e nem indulgente.
Quando
alguém diz que precisa perdoar é porque tem uma história de magoa
que carrega em seu íntimo. Nem sempre o causador desta mágoa tem
consciência de que a causou, mas que sente a mágoa tem uma história
muito particular em que o outro sabia muito bem o que estava fazendo
e não exitou em fazer...
Quando o
magoado conta a história, mesmo que já faça muito tempo é como se
estivesse acontecendo agora... É como se algo que tivesse acontecido
há muito tempo estivesse acontecendo agora no interior de quem se
sente magoado. Esta magoa desperta estados de tristeza, ódio, raiva,
depressão... fazendo o indivíduo sentir-se vítima nos
acontecimentos, esquecendo que cada um de nós colhe hoje o que
semeou em seu passado... este estado de mágoa leva o indivíduo a
desejar vingança, o mal alheio ou simplesmente a infelicidade do
algoz em sua história unilateral e pessoal de mágoa que não
considera as relações que tivemos em vidas passadas. Esta pessoa
que se sente ofendida e desenvolveu uma historia pessoal de mágoa
não consegue sentir-se bem, em paz e no seu perfeito estado de
saúde, portanto o estar ofendido é um estado doentio do ser.
A magoa,
a raiva, a infelicidade, a depressão e outros sintomas do não
perdão estão associados a dores no corpo, alteração da pressão
sanguínea, problemas do coração, câncer, alergias, baixa
imunidade, entre outros problemas de saúde.
Podemos
dizer que o Perdão é a forma de se libertar desta mágoa. Perdoar
não é fechar os olhos para os atos de desamor, nem mesmo esquecer
ou desculpar, nem negar o sofrimento ou buscar a reconciliação ou
ainda desistir de ter sentimentos agindo com indiferença perante
situações semelhantes.
Perdoar
é sentir-se em paz, é ter o poder para determinar como irá se
sentir com relação ao acontecido. É assumir a responsabilidade
pelos próprios sentimentos. É se aproximar da saúde, portanto da
própria cura. É uma habilidade que pode ser aprendida. Quando
perdoamos deixamos de ser vítimas. E por fim, perdoar é poder fazer
uma escolha.
Então,
como perdoar?
Primeiro
é saber que as coisas não acontecem só com você. Qual é sua
história de magoa? É a primeira vez que isto aconteceu neste mundo.
Se não, se é um fato que ocorre pode acontecer com qualquer pessoa,
inclusive com você. É assim que viramos estatísticas quando
perdemos um emprego, falimos, fracassamos, separamos, adoecemos,
somos traídos... não queiramos a exclusividade ou sermos
privilegiados em nenhuma destas situações, e nem mesmo achar que o
nosso verdugo é o único que existe na face da Terra. É bom lembrar
que vivemos em um mundo imperfeito que está de acordo com nossa
condição existencial. Quem quer a perfeição que a encontre em si
mesmo e assim poderá reclamar da imperfeição dos outros.
Para
perdoar é preciso saber exatamente o que aconteceu e poder
verbalizar o que aconteceu identificando o que houve de errado.
Contar para uma ou mais pessoas de sua confiança ajuda neste
processo de tornar consciente o que ocorreu. Já contar pra todo
mundo o tempo todo acaba por deixar a mágoa bem intensa em si mesmo
e dificulta o benefício do perdão.
Depois é
hora de decidir o que irá fazer por si mesmo para sentir-se feliz e
não poupar esforços para isso. Se decidir perdoar, ninguém precisa
saber de sua decisão.
Perdoar
não significa voltar a conviver ou ser cúmplice de ninguém.
Saiba
que o que aconteceu está no passado, mas o que o torna infeliz são
os sentimentos e desconfortos que você sente hoje com relação ao
que aconteceu lá no passado (há dez minutos ou dez anos). Portanto
quem alimenta o “mal” agora é você pelos sentimentos que nutre
em sua alma.
Aprenda
a controlar o seu corpo aplicando técnicas de relaxamento, fazendo
atividades prazerosas, proporcionando alegria e bem estar a você
mesmo.
Aceite
que você pode mudar a si mesmo e apenas sugerir mudanças nos
outros. Saiba bem o que depende de você e o que pode ou não
acontecer porque depende do outro.
A
energia para sentir-se bem é sua e é você que a empresta para que
outros lhe façam sentir mal.
Busque o
amor, a beleza e a bondade ao seu redor.
O perdão
é muito mais para nós mesmos do que para o outro, portanto perdoar
é uma ato de inteligência pela nossa própria felicidade. Já não
se ofender é um ato de amor. Sejam atos de inteligencia ou amor
aplicados em nossas vidas, serão sempre atos de Caridade, pois
Caridade é benevolência, indulgencia e perdão para com todos,
inclusive para conosco mesmo é o caso do Auto-Perdão.
Liberte-se
da dor. Pratique o Perdão.
Sugestão
de leitura: O Poder do Perdão. Autor: Dr. Fred Luskin.